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Educação | Terça-feira

Frases “mal colocadas” de um governo mal colocado

Por Maria Angela Gomes, Agenda News

Publicado em 09/11/2021 09h35

Frases “mal colocadas” de um governo mal colocado Ilustrativa - Gov. BR
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Em 2021 comemoramos o centenário de Paulo Freire – patrono da educação brasileira -, no entanto os motivos para comemorações estão apenas nas ideologias das quais compartilhamos, pois a educação mesmo, tem sido motivo de tristeza e lamentações. Ao final de 2021, após caminharmos incansavelmente nos últimos anos para que o acesso a educação fosse ilimitado a todo e qualquer brasileiro, o atual ministro da educação, Milton Ribeiro, defende a tecnicidade do ensino e uma universidade “para poucos”, em suas palavras. A visão do ministro sobre a educação e consequentemente do atual governo, reflete-se na quantidade de inscritos para o próximo ENEM que será realizado em finais de novembro. Trata-se do menor número de candidatos dos últimos 15 anos. 

O governo federal justifica a baixa quantidade de inscritos na falta de interesse dos estudantes, procurando assim inserta-se do descaso com as pautas educacionais que não foram, de forma alguma, priorizadas durante os dois anos de pandemia e nem mesmo antes dela. Destaco aqui, contudo, outros motivos factuais: a ausência dos estudantes nas escolas durante o período de pandemia e sem suporte algum para o acesso as aulas remotas; as novas regras para obtenção da isenção da taxa de inscrição, que devido ao baixo número de inscritos foi relevada, mas convenhamos, não seria difícil perceber que boa parte dos estudantes não compareceu ao exame anterior por medo da contaminação uma vez que a prova foi aplicada em um período auge da pandemia sem vacinas para jovens e adolescentes. A nova regra previa que o estudante que não compareceu a prova do ano anterior não teria direito a isenção este ano. Poderíamos ainda mencionar a crise econômica instaurada no Brasil e que consequentemente leva a uma divisão estrondosa entre trabalho e estudos. 

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Os cortes orçamentários para a educação e ciência aliados a um discurso que procura difamar as universidades públicas, reflete claramente que a intenção do governo não é incentivar a educação técnica, mas sim, levar os estudantes a uma falsa dicotomia entre a carreira universitária e técnica. Não cabe ao povo decidir em qual área da educação os investimentos devem ser direcionados, muito pelo contrário, cabe ao governo investir na educação em sua totalidade, cabendo aos estudantes apenas, unicamente o dever e o direito de escolher qual caminho seguir. 

O que percebemos neste momento é que as frases “mal colocadas” pelos governantes não são, de forma alguma, inocentes. Por trás de todas as declarações existe uma ideologia que não é nova, é a mesma utilizada pelo governo nazista em 1933 ao queimar os livros, a mesma utilizada por aqueles que incendiaram a biblioteca de Alexandria, a mesma que defende que o pobre deve permanecer pobre para que os ricos aumentem suas fortunas. As frases não são mal colocadas, muito pelo contrário, são extremamente coerentes com as ideias; o que está mal colocado é o próprio ministro, consequentemente seu superior.



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Maria Angela Gomes

Petropolitana, professora de História, mestranda em História Social e atua na área de educação há 04 anos com reforço escolar e educação multidisciplinar. Redes Sociais: Facebook Instagram